Dados divulgados pela OMS mostram que o número de casos com grau 2 de Incapacidade Física identificadas no início do tratamento cresceu 11% em 2019. Para especialistas, relatório demonstra o impacto negativo do diagnóstico tardio
Em 2019, o número de pacientes identificados com grau 2 de incapacidade física no começo do tratamento de hanseníase aumentou no Brasil. Significa que, ao receberem o diagnóstico da doença, os pacientes já apresentam sequelas visíveis nas mãos, pés ou olhos, e passam a ser considerados pessoas com deficiência física. O país também é a região com maior número de pacientes que precisam refazer o tratamento da doença (44%), seja pela insuficiência terapêutica, recontaminação, abandono de tratamento ou pela resistência antibiótica. Os dados são do relatório anual da OMS sobre hanseníase, Global Leprosy (Hansen disease) update, 2019: time to step-up prevention initiatives, divulgado no início de setembro.
Outro dado alarmante é a permanência do Brasil entre os três países com maior número de novos casos de hanseníase, registrando mais de 10 mil diagnósticos por ano. O país fica atrás apenas da Índia e é seguido pela Indonésia. Segundo o relatório, a situação brasileira permanece imutável nos últimos cinco anos, considerando o número de novos casos e a proporção de diagnósticos em crianças. “Essa condição ilustra o diagnóstico tardio que vem ocorrendo no Brasil nos últimos anos. A posição das autoridades de saúde ainda é muito negligente: é preciso ter políticas de saúde realmente orientadas para o combate dessa doença”, comenta a fundadora do Instituto Aliança Contra Hanseníase, dra. Laila de Laguiche.
Formação médica
Com atuação desde janeiro de 2019, o Instituto AAL (da sigla em inglês Alliance Against Leprosy) tem o objetivo de fortalecer ações para o diagnóstico precoce – por meio de treinamentos e capacitações dos profissionais da saúde. “Precisamos debater não só sobre o preconceito que os pacientes sofrem, mas também sobre o despreparo dos profissionais que tratam a hanseníase. É comum encontrar médicos inseguros em diagnosticar a doença, já que o assunto não é abordado o suficiente nos cursos de saúde. A hanseníase é complexa, porque exige não só uma atenção primária, mas secundária e terciária também”, explica a dermatologista.
A doença
A hanseníase é uma doença crônica infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium leprae, que se multiplica lentamente e pode levar de cinco a dez anos para dar os primeiros sinais. A patologia afeta principalmente os nervos periféricos e está associada a lesões na pele, como manchas esbranquiçadas ou avermelhadas, ressecamento e perda de sensibilidade. O diagnóstico tardio pode deixar graves sequelas, especialmente a incapacidade física com deformidades em mãos e pés, podendo levar também à cegueira. Até 1995 a Hanseníase era conhecida como Lepra. Em março daquele ano, entrou em vigor a Lei 9.010, que alterou a terminologia oficial, mas que não representou mudança significativa nos desafios e preconceitos vividos pelos portadores da doença. Embora tenha cura e o tratamento ser gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a hanseníase é difícil de ser identificada.
A OMS colocou a hanseníase na lista de doenças negligenciadas, caracterizadas por serem patologias infecciosas e afetarem, principalmente, as populações que vivem em extrema pobreza. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), as doenças negligenciadas estão restritas a regiões tropicais e subtropicais com condições de habitação precárias.
Instituto Aliança contra Hanseníase
Com sede em Curitiba (PR) e projeção internacional, o Instituto Aliança contra Hanseníase – AAL, na sigla em inglês (Alliance Against Leprosy), é uma associação sem fins lucrativos que une ciência, educação e filantropia no combate à hanseníase, também conhecida como lepra. O Instituto AAL foi fundado pela dermatologista e hansenologista Dra. Laila de Laguiche, profissional com 20 anos de experiência na área, pós-graduada em Saúde Internacional e Doenças Tropicais pelo Instituto de Medicina Tropical da Antuérpia (Bélgica). Já atuou como representante da regional Sul e Relações Internacionais da Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH). A entidade ainda conta com uma equipe de conselheiros formada por grandes referências em hansenologia no Brasil e na América Latina.