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Pesquisador brasileiro dedica-se ao mapeamento genético de pacientes com hanseníase

Marcelo Mira
Marcelo Mira

Com mais de 20 anos de atuação na área, Marcelo Mira pesquisa fatores que ajudem a compreender a suscetibilidade à doença

A paixão pela ciência e o fascínio pela possibilidade de desvendar mistérios de uma doença milenar foram alguns dos motivos que levaram Marcelo Távora Mira a construir uma reconhecida carreira na área de genética molecular em hanseníase. Doutor em Bioquímica/Genética Molecular pela McGill University, do Canadá, Mira é professor titular do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Saúde na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e coordena projetos de pesquisa em genética humana e microrganismos, com ênfase em mapeamento genético de doenças complexas, em especial, a hanseníase. Suas contribuições para a compreensão molecular da doença começaram no início dos anos 2000, com seu doutoramento. 

“Foi no doutorado que eu tive contato com essa doença fascinante e nunca mais nos separamos,  pelo contrário, cada vez tento entendê-la mais. É uma doença misteriosa ainda, apesar de ser milenar”, afirma Mira. Sua pesquisa de doutorado  resultou na tese “A study of host genetic risk factors for leprosy susceptibility”, que fez o mapeamento de genoma dos membros de uma coleção de famílias vietnamitas contendo diversos casos de hanseníase. O objetivo foi investigar a natureza de fatores genéticos que geram suscetibilidade à doença. “O que nós encontramos nessa população foi então replicado em uma população brasileira, no Rio de Janeiro, com a parceria do Dr. Milton Moraes, da Fiocruz. Isso deu dois artigos científicos de alto impacto, que contribuíram bastante para a  história da hanseníase molecular. Tenho muito orgulho deste trabalho”.

Para Mira, o estudo da hanseníase também é um excelente modelo para compreender outras doenças. “Ao longo da minha carreira, vi resultados encontrados para hanseníase que ajudaram a entender doenças como tuberculose, doença de Crohn  e  de Parkinson.  

Santo Antônio do Prata

Ao retornar ao Brasil depois do doutorado, Mira tinha a missão de formar um grupo de pesquisa em sua área de estudo. Coincidentemente, sua primeira candidata entrevistada era uma médica infectologista, formada no Pará, que tinha feito um trabalho comunitário em uma vila, ex-colônia de pessoas com hanseníase, localizada em Igarapé-Açu, município paraense com cerca de 39 mil habitantes, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“A coincidência incrível foi que ela não sabia que tinha estudado hanseníase no meu doutorado. Juntos, iniciamos o grupo e marcamos, imediatamente, uma visita à Vila de Santo Antônio do Prata. Fiquei fascinado com a história e venho estudando a comunidade até hoje”, conta o pesquisador. 

Santo Antônio do Prata é uma ex-colônia criada na década de 1920 para isolar pacientes com hanseníase, quando isso ainda era feito de forma compulsória. Se manteve assim até meados da década de 1960, mas os moradores continuam isolados, não por ordem pública, mas por causa do estigma que a comunidade carrega. Mira explica que a região ainda é conhecida como “vila dos leprosos”.

“As pessoas não querem morar lá e quem mora não quer sair. Tem receio dos preconceitos que pode enfrentar em outro lugar”. Ao conhecer a realidade local, o pesquisador chegou à hipótese de que se as pessoas foram para a vila porque tinham hanseníase, fatores de risco genético impressos no genoma estão enriquecidos na população. “Quem está morando atualmente no Prata é descendente dessa população que era muito suscetível à doença. Assim, encontrar fatores de risco genéticos é mais fácil do que em outras comunidades. A vila, onde devem viver cerca de 4 mil pessoas,  ainda é considerada hiperendêmica”. Acesso à saúde, adesão ao tratamento e aspectos socioculturais são algumas das respostas para esse cenário, segundo Mira.

Expedição 

Em 2022, em um estudo baseado na Universidade de Leiden, financiado pela Leprosy Research Initiative e realizado por meio da cooperação internacional entre Brasil, Bolívia e Holanda, Marcelo Mira reuniu uma equipe de pesquisadores para uma expedição na Vila Santo Antônio do Prata. O objetivo é validar um teste de para diagnóstico de hanseníase produzido na Holanda. “Para a hanseníase, que é uma doença que se dá, principalmente, em populações pobres, com baixo acesso à tecnologia, esses seriam os testes seriam os ideais. Você tira uma gota de sangue do dedo do paciente e já pode ver se dá positivo ou não, como um teste de gravidez”, explica Marcelo Mira, que está à frente da pesquisa no Brasil. 

Motivação

Além do que chama de “desafio científico”, Mira diz que outra motivação para dedicar mais de 20 anos ao estudo da hanseníase é a contribuição social de trabalhar com uma doença que é negligenciada e que precisa de mais profissionais interessados. Incentivo quem estiver pensando em embarcar em uma carreira científica a prestar atenção nos desafios negligenciados que a gente tem por aí, eles estão precisando de gente boa. Nesse sentido, a ação de entidades como a Aliança contra Hanseníase, que se envolve na tarefa de manter as pessoas falando sobre esse assunto e tenta ajudar os pacientes lá na ponta, é super importante”, finaliza. 

Conheça os projetos desenvolvidos pela Aliança contra Hanseníase na área de capacitação profissional

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