Olá pessoal!
Meu nome é Laila de Laguiche, sou Dermatologista e Hansenologista. Formada em Saúde Internacional e Doenças Tropicais pelo Instituto de Medicina Tropical da Antuérpia, Bélgica.
Quero compartilhar com vocês um pouco da minha experiência em Hanseníase.
Trabalho e estudo esta doença desde minha formação acadêmica, há cerca de 20 anos. Sempre com meu olhar científico, via este bacilo de maneira muito intrigante: tão antigo, arcaico e ainda tão bem adaptado ao seu hospedeiro preferido: o homem.
Naquela época, no estado de São Paulo, aprendíamos a epidemiologia da Hanseníase de maneira muito simples: pacientes oriundos do estado do Paraná ou do Mato Grosso do Sul, com doenças granulomatosas ou máculas hipocrômicas com diminuição da sensibilidade igual a forte suspeita de Hanseníase. Pesquisa clínica obrigatória. Tratamento sempre oferecido pelo Ministério da Saúde gratuitamente e nas UBS era só completar a cartilha: Pauci ou Multi, 6 meses ou 24 meses. E missão cumprida.
Os anos passaram, as políticas de Saúde Pública mudaram, evoluíram e a população mudou, migrou, cresceu e envelheceu.Hoje empobreceu.
A doença penetrou nas camadas mais jovens da população insidiosamente, muito lentamente pois o diagnóstico foi menosprezado, esquecido ou diminuído. Os idosos continuaram a transmitir os bacilos via aérea aos seus familiares e próximos, certamente por não saber de seu estado de saúde ou talvez por vergonha de seu diagnóstico. Eu particularmente já presenciei vários casos de doente que escondeu seu diagnóstico da família e 15 anos depois diagnostiquei o neto ou outro familiar igualmente doente. Uma pena evidenciar quanto o orgulho pode vencer o bom senso e a solidariedade do ser humano.
Hoje a situação epidemiológica da Hanseniase é completamente diferente: temos vários Estados afetados massivamente, na região Norte, Nordeste e Centro-Oeste. População jovem e um grau de incapacidade já muito avançado, oriundo dodiagnóstico tardio. Um doente de hanseníase“peregrina” cerca de 24 meses em média, de médico em médico, de UBS a clínicas privadas, sem diagnóstico pois são poucos os colegas e profissionais de saúde que ainda sabem fazê-lo.Situação que nos coloca em segundo lugar no ranking mundial da Hanseníase, perdendo somente para a Índia.
Acredito na capacitação destes profissionais para mudar este quadro tão triste da nossa saúde pública. A formação profissional e a liberação das licenças de trabalho, como o CRMedicina e CREnfermagem são nossos órgãos públicos responsáveis pela fiscalização do exercício e também da formação profissional. Além disto existem várias associações filantrópicas que procuram complementar esta falha curricular e nem sempre existe verba disponível.
Nossa população está perdendo em saúde: mortes por doenças vacináveis, epidemia de doenças sexualmente transmissíveis e grande número de doenças chamadas vetoriais (as transmitidas por animais). A Hanseníase é hoje tratada pela Organização Mundial da Saúde como doença negligenciada.
A mudança está em nossas mãos. Não sejamos negligentes.
A Hanseníase tem cura.
Laila de Laguiche
Profissional bem preparado é capaz de diagnosticar precocemente a hanseníase e várias outras doenças negligenciadas. A questão é que pra essa formação adequada acontecer são necessárias não apenas mudanças técnicas, nas universidades, etc., É necessário também que a sociedade se dê conta dessa necessidade. Assim, juntos, ciência e sociedade caminharão efetivamente para resolver o problema da hanseníase no Brasil. Nós acreditamos nisso.”
FRASE ACRESCENTADA PELA DAHW