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Instituto Aliança Contra Hanseníase treina 200 profissionais de saúde pública da região brasileira mais afetada pela doença

Médicos,  enfermeiros, fisioterapeutas e demais profissionais de saúde estão sendo capacitados por especialistas do AAL em parceria com órgãos públicos do Mato Grosso.

Com o objetivo de difundir informações de qualidade sobre a Hanseníase, treinar e capacitar profissionais de saúde para o diagnóstico precoce, o  Instituto Aliança contra Hanseníase – AAL, na sigla em inglês (Alliance Against Leprosy), associação sem fins lucrativos,  realiza no Mato Grosso a segunda semana de capacitação em vigilância, diagnóstico e atenção em hanseníase. A atividade envolve mais de 200 profissionais de saúde, entre enfermeiros e médicos, e é realizada entre 26 e 30 de agosto com apoio da Secretaria Estadual de Saúde do Mato Grosso, estado considerado hiperendêmico. O curso é ministrado pelo Doutor Jaison Antônio Barreto, hansenologista do Instituto Lauro de Souza Lima enviado pelo AAL.  Esta capacitação é a primeira de uma sequência da dez capacitações que serão realizadas em 2019 e 2020 em varias regiões do Mato Grosso.

As ações acontecem em Juína, mas devem atender outras cidades da região. As Secretarias Municipais de Saúde de Aripuanã, Brasnorte, Castanheira, Colniza, Cotriguaçu, Juína, Juruena também estão envolvidas. Estima-se que a capacitação irá beneficiar uma população total de 162.739 pessoas que vivem na região noroeste do estado. O objetivo do projeto é capacitar profissionais de atenção primária e ambulatórios regionais na vigilância, diagnóstico e atenção à hanseníase e, assim, melhorar os indicadores da doença na região. Nos últimos três anos foram registrados mais de mil novos casos de Hanseníase na região. segundo a Secretaria de Saúde do Mato Grosso.

Sobre Hanseníase

A hanseníase é uma doença crônica infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium leprae, que se multiplica lentamente e pode levar de cinco a dez anos para dar os primeiros sinais. A patologia afeta principalmente os nervos periféricos e está associada a lesões na pele, como manchas esbranquiçadas ou avermelhadas, ressecamento e perda de sensibilidade. O diagnóstico tardio pode deixar graves sequelas, especialmente a incapacidade física com deformidades em mãos e pés, podendo levar também à cegueira. Até 1995, a Hanseníase era conhecida como Lepra. Em março daquele ano, entrou em vigor a Lei 9.010, que alterou a terminologia oficial, mas que não representou mudança significativa nos desafios e preconceitos vividos pelos portadores da doença.

Embora tenha cura e o tratamento ser gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a hanseníase é difícil de ser identificada. Laila de Laguiche afirma que uma pessoa doente com a bactéria Mycobacterium leprae “peregrina” cerca de 24 meses, de médico em médico, para receber o diagnóstico. “São poucos os profissionais que ainda sabem diagnosticar a hanseníase, o que aponta a urgente necessidade de mudanças nas técnicas e no processo de formação. Contudo, isso só vai acontecer quando a sociedade se der conta da gravidade do cenário em que vivemos”.

Outra barreira que dificulta o diagnóstico é o preconceito gerado pela falta de informação. “Precisamos mudar a imagem da hanseníase nos níveis global, nacional e local para que os pacientes não tenham medo ou vergonha de se apresentarem para diagnóstico e tratamento nas instituições de saúde, garantindo a não discriminação e a promoção da inclusão social”, enfatiza professor da Faculdade de o Medicina da USP – Ribeirão Preto e membro do conselho consultivo da AAL, Dr. Marco Andrey Frade. “Infelizmente, ainda há muitos casos de pessoas que escondem a doença por receio de serem excluídas de suas comunidades. Além de perderem a chance de receber tratamento adequado e a cura, acabam contribuindo para o aumento de transmissão da doença. Só o conceito destrói o preconceito”, reforça o professor.

Números alarmantes de uma doença negligenciada

Apesar da invisibilidade, a hanseníase faz parte de uma chocante realidade no Brasil. O país é o segundo com o maior número de casos no mundo, atrás somente da Índia. Segundo dados do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2017 foram detectados 26.875 novos casos no território brasileiro, o que representou mais de 93% das ocorrências registradas em países das Américas. Em 2016 foram 25.218 casos. Dados preliminares já apontam 26.667 casos em 2018.

A OMS colocou a hanseníase na lista de doenças negligenciadas, caracterizadas por serem patologias infecciosas e afetarem, principalmente, as populações que vivem em extrema pobreza. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), as doenças negligenciadas estão restritas a regiões tropicais e subtropicais com condições de habitação precárias.

“Estamos vivendo em um cenário de hanseníase muito mais grave do que o registrado oficialmente. O surgimento dessa nova iniciativa, formada por um grupo que enxerga a situação e tem conhecimento na causa, é algo muito necessário. O Instituto Aliança contra Hanseníase preenche um espaço que está vazio há muito tempo, no sentido de investir forças para mudar esse panorama e apoiar essas pessoas que estão vivendo à sombra da sociedade”, afirma Claudio Guedes Salgado, doutor em Medicina pela Universidade de Tóquio, presidente da SBH e diretor executivo da AAL.

Em 2016, a OMS lançou a Estratégia Global para a Hanseníase 2016-2020 para fortalecer combater a doença e suas complicações, além de promover a inclusão social. De acordo com Salgado, dois pilares fundamentais do programa não serão cumpridos pelo Brasil: eliminação da incapacidade física visível (perda de parte do membro, atrofia ou ferimento) entre os novos casos em crianças, que hoje gira em torno de 50 a 60 casos por ano, e redução dos novos casos com incapacidade física visível para menos de 1 por milhão de habitantes, proporção nove vezes maior no Brasil. O terceiro pilar consiste em erradicar leis discriminatórias direcionadas aos doente. Felizmente não é o caso do Brasil.

“O Instituto AAL tem como objetivo fortalecer ações para o diagnóstico precoce, combate à discriminação com promoção da inclusão social além do apoio à construção de uma rede de cuidado integral aos pacientes de hanseníase. Estou convencida que pesquisa e inovação podem responder aos desafios do diagnóstico

precoce, tratamento, resistência medicamentosa e prevenção contra hanseníase”, acrescenta Isabela Maria Bernardes Goulart, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia-MG, presidente e fundadora do CREDESH – um dos 6 centros de referência nacional de atenção à Hanseníase – e membro do conselho executivo do instituto AAL.

Mais informações em http://www.allianceagainstleprosy.org

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