De acordo com a publicação do Ministério da Saúde, de 14 de outubro de 2024, o ensaio clínico da vacina LepVax contra hanseníase foi autorizado pela ANVISA.
A aprovação refere-se ao ensaio clínico fase 1b da candidata à vacina para prevenção ou tratamento da hanseníase, desenvolvida em esforço colaborativo entre instituições nacionais e internacionais.
A autorização para o início do ensaio clínico fase 1b, que tem o objetivo de avaliar a segurança, a tolerabilidade e a imunogenicidade da vacina LepVax (LEP-F1 + GLA-SE) contra a hanseníase, em participantes adultos sadios, após a administração intramuscular de 2 μg ou 10 μg da vacina nos dias 0, 28 e 56.
O desenvolvimento da LepVax foi realizado no Infectious Disease Research Institution (IDRI) sob a iniciativa do pesquisador americano Malcon Duthie, e envolve um esforço colaborativo entre a American Leprosy Mission (ALM, desde 2002), a Infectious Disease Research Institution (IDRI), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e muitas organizações, através da Federação Internacional de Associações Anti-Hanseníase (International Federation of Anti-Leprosy Associations – ILEP).
A LEP-F1 é uma proteína recombinante composta pela fusão de quatro antígenos do Mycobacterium leprae, microrganismo causador da hanseníase e por um adjuvante (GLA-SE) que atuará otimizando à resposta imunológica. O antígeno LEP-F1 será produzido pela Universidade de Iowa (UI-CBB) e o adjuvante GLA-SE pela IDRI, ambas localizadas nos Estados Unidos.
Na fase 1b do ensaio clínico, serão incluídos 30 participantes sadios, a serem recrutados no Ambulatório Souza Araújo, no Rio de Janeiro. Com base nos resultados obtidos nessa fase, a Fiocruz poderá submeter o pedido de autorização à Anvisa para a realização da fase 2a, que incluirá pacientes com hanseníase paucibacilar (PB). A fase pré-clínica e a fase 1a do desenvolvimento clínico foram realizadas nos Estados Unidos e a vacina foi considerada segura e bem tolerada em adultos saudáveis quando administrada por via intramuscular em todas as doses testadas (2 μg ou 10 μg de LEP-F1 e 5 μg de GLA-SE)
A vacina, injetável, é composta uma proteína recombinante composta pela fusão de quatro antígenos do Mycobacterium leprae, microrganismo causador da hanseníase (LEP-F1) associado a um adjuvante (GLA-SE) que serve para otimizar a resposta imunológica.
Os ensaios pré-clínicos, isto é, em animais (camundongos e tatus) demonstraram resultados muito promissores em evitar o desenvolvimento da doença nesses animais, o que permitiu o avanço do estudo para testagem iniciais em seres humanos
Os estudos iniciais com seres humanos foram realizados nos Estados Unidos e a vacina foi considerada segura e bem tolerada em adultos saudáveis quando administrada por via intramuscular.
Em prosseguimento, a próxima fase será realizada no Rio de Janeiro, com a participação da FIOCRUZ.
Muito importante que esta fase do estudo seja feito no Brasil, isto é, um país onde a hanseníase é endêmica desde sempre. Desta forma, os participantes, ao contrário dos USA, são pessoas que já tiveram contato com a bactéria que causa a hanseníase e se sistema imunológico já pode ter apresentado alguma resposta, o que também pode, nesse novo teste, influenciar na resposta à vacina. Ademias, os brasileiros, ao contrário dos americanos, são todos vacinados contra tuberculose, com uso do BCG, o que da a nossa população uma outra condição de resposta imunológica a esta vacina no contexto de um país endêmico, Nesse sentido, o brasil é um pais ideal para fazer esta fase d estudo.
O estudo no Brasil envolve ainda pessoas sem a doença, para fins de testar a segurança e a capacidade da vacina de causar uma resposta imunológica de proteção (imunogenicidade).
Teremos três grupos de estudo. Serão testados duas dosagens da vacina injetável (dois grupos) contra um grupo controle (um grupo) que vai receber um placebo, isto é, uma substância que não tem efeito de vacina ou terapêutico. Serão usadas três doses a cada 28 dias e depois, as pessoas vacinadas serão seguidas por um ano para verificar os resultados.
Sendo que a Anvisa autorizou o estudo agora em outrubro, será iniciada a importação da vacina dos Estados Unidos para o Brasil. O estudo já foi aprovado pelo Comitê Ética em Pesquisa com Seres Humanos do IOC (CEP Fiocruz/IOC)
A segurança da vacina será avaliada quando ao surgimento de efeitos adversos, entre eles, dor no local da injeção, cansaço e dor de cabeça, mas que são comuns após aplicação de vacinas em geral.
A eficácia da vacina, isto é, a verificação de a vacina efetivamente protege as pessoas contra a doença, será feita através da análise do sangue os participantes para verificar a presença e a quantidade de anticorpos presente no soro dos participantes. Também será verificado se a vacina é capaz de ativar as células de defesa, especialmente as chamadas células T.
Se este estudo (fase 1b) der bons resultados para o desempenho da LepVax, já se planejam a próxima etapa da pesquisa, que também será realizada pela Fiocruz.
Nessa fase (F2a) serão vacinadas pessoa com a doença, isto é, com hanseníase para estudar a segurança da imunização em indivíduos infectados pelo M. leprae, assim como verificar a função de proteção da vacina.
A importância de uma vacina específica contra a hanseníase, isto é, que proteja as pessoas do adoecimento pela hanseníase, é que ela será a principal arma para interromper a transmissão da doença no mundo e, em curto prazo, eliminar a doença e, no futuro próximos, erradicá-la do mundo.
Ao reconhecer a importância do desenvolvimento de uma vacina contra a hanseníase no contexto profilático e terapêutico, e em apoio à estratégia global da Organização Mundial da Saúde (OMS) e ao plano de ação para doenças tropicais negligenciadas (DNTs) 2021-2030, que visa eliminar a interrupção da transmissão da doença no mundo, a Anvisa fez todos os esforços possíveis para a avaliação do pedido de autorização do ensaio clínico no menor tempo possível.
O que são ensaios clínicos?
São os estudos de um novo medicamento, realizados em seres humanos. A fase clínica serve para demonstrar a segurança e a eficácia do medicamento experimental para a indicação proposta. Havendo a comprovação de que os benefícios superam os riscos, o medicamento experimental poderá ser registrado pela Anvisa e disponibilizado no mercado brasileiro, desde que haja a solicitação por parte da empresa desenvolvedora/patrocinadora do desenvolvimento clínico.
Para a realização de qualquer pesquisa clínica envolvendo seres humanos, é obrigatória a aprovação dos Comitês de Ética em Pesquisa (CEPs) e/ou da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).
A aprovação de pesquisa clínica pela Anvisa se aplica somente às pesquisas clínicas que tenham a finalidade de registro e pós-registro de medicamentos, por solicitação de empresas patrocinadoras ou de seus representantes.
O prazo para início da pesquisa clínica, após a aprovação ética e regulatória, é definido pelo patrocinador do estudo.
Fonte: Ministério da Saúde
Por: Nicole Morihama (gerente geral AAL) e Dr. Marcos da Cunha Lopes Virmond (conselheiro deliberativo AAL)