Teste para diagnóstico da Hanseníase

Os desafios do diagnóstico da hanseníase

Entendendo um pouco sobre a hanseníase e as limitações dos exames que estão disponíveis para o seu diagnóstico no Sistema Único de Saúde (SUS).

Por Dra. Laila de Laguiche e Dr. Francisco Bezerra de Almeida Neto

Para saber se uma pessoa tem hanseníase com um exame, infelizmente ainda não é possível, porque a ciência ainda não tem um teste capaz de diagnosticar 100% dos casos.

Este fato acontece porque a hanseníase pode se manifestar de maneiras muito diferentes nas pessoas. Tudo depende de como o sistema imunológico, ou seja, “a imunidade” daquela pessoa vai responder quando ela adoece de hanseníase. Veja bem… Adoecer de hanseníase não significa que a pessoa se encontra com a “imunidade fraca”. Mas que o seu organismo não consegue se defender bem especificamente da bactéria que causa a hanseníase.

Entendido isso, é importante saber também que a doença se desenvolve muito lentamente no organismo, porque a bactéria também se multiplica muito lentamente. Imagine que, em uma infecção de garganta, por exemplo, a bactéria se multiplica em questão de poucas horas, enquanto na hanseníase, o bacilo se multiplica em 10 a 12 dias em média!

Por esta razão, quando uma pessoa é exposta ao bacilo, vários caminhos podem acontecer. Uma parte das pessoas (que se acredita se tratar da maioria) conseguirá combater a doença sozinho e não ficará doente. Outra parte vai ficar doente, podendo o seu sistema imunológico desenvolver maior ou menor defesa contra ela.

Quando o organismo consegue desenvolver uma boa defesa, (o que não significa que a doença será necessariamente menos grave), a quantidade de bactérias é muito pequena, e a maioria dos exames da atualidade, mesmo os que se utilizam de biologia molecular, não são capazes de detectar todos os casos.

Já quando o organismo não consegue desenvolver uma boa defesa, lentamente a doença vai se espalhando, e consequentemente a quantidade de bacilos vai crescendo. Nesses casos, alguns exames poderão detectar a presença de anticorpos contra a bactéria, ou ainda, dependendo do exame realizado, a própria bactéria ou o seu DNA, que neste caso, possibilita também verificar se ela é resistente ou não a alguns medicamentos que são utilizados para o tratamento.

A ciência acredita que algumas pessoas, mesmo com anticorpos detectáveis podem também não adoecer, mas precisam ser observadas de perto pelo médico. A discussão a esse respeito está longe de acabar, porque existem cientistas que pensam ao contrário.

O teste que identifica a bactéria em uma pessoa que nunca foi tratada confirma o diagnóstico. Os outros estão sendo implantados aos poucos no nosso País, e ainda não estão completamente disponíveis em todos os lugares.

Esses testes não estão disponíveis para venda direta ao público, porque como vimos, a interpretação é complexa e somente pode ser realizada pelo seu médico.

Testes diagnósticos não substituem o exame físico que deve ser realizado por um médico experiente!

Mesmo assim, é importante sempre lembrar, que nenhum teste diagnóstico substituirá o exame médico que deve ser realizado em caso de suspeita de hanseníase, porque eles podem ser negativos, mesmo que você esteja doente. Procure sempre um médico quando sentir dormências em mãos e pés, formigamentos, cãibras, sensação de “fisgadas” nos nervos, ainda que não apresente nenhuma alteração de pele.

Esses sintomas são os que costumam aparecer antes mesmo da presença das lesões da pele. Lembrando que essas lesões têm alteração de sensibilidade e várias formas de aparecerem, desde manchas brancas, manchas arredondadas, áreas avermelhadas até caroços ou “inchaços” nas orelhas nos casos mais avançados.

A hanseníase se parece com muitas outras doenças, porque afeta vários órgãos, como articulações, fígado, linfonodos, (podendo ocasionar “ínguas”), olhos, testículos e principalmente os nervos do corpo. Dessa forma é frequentemente confundida com outras patologias, como artrite, doenças do fígado, síndrome do túnel do carpo, fibromialgia, outras infecções etc.

Como nosso País é o segundo do mundo em casos de hanseníase, vale lembrar que se você sente algum desses sintomas, deve procurar um médico. Preferencialmente um que seja especialista na doença, para que sua assistência seja de melhor qualidade. E não confie somente nos resultados dos exames. Lembre-se: todos os exames realizados podem ser negativos! É o seu médico que é capaz de dizer se você tem ou não o problema, somente depois que lhe examinar detalhadamente.

Se por acaso você estiver com o problema, converse com todas as pessoas da sua família para que elas sejam examinadas também, mesmo que não sintam nada. Ao contrário do que se pode imaginar, a doença avançada pode ser totalmente livre de qualquer sintoma.

O diagnóstico realizado precocemente, fará você evitar sequelas da doença que podem acontecer. Essas sequelas podem ser irreversíveis. Como em qualquer outra doença, tudo no início é mais fácil de ser tratado.

De quais os exames estamos falando?

O sistema único de saúde (SUS) sempre ofereceu a pesquisa direta do bacilo em um exame chamado “baciloscopia”. Com o passar dos anos, os lugares que realizam este exame estão ficando cada vez mais escassos, mas ainda é possível encontrar. Quando positivo, ele define se uma pessoa tem hanseníase, mas quando negativo, não exclui essa possibilidade.

Outro método disponível são as biópsias de pele, se existirem lesões suspeitas. Geralmente o médico precisa solicitar uma coloração especial no histopatológico (laboratório onde é realizado o exame), que se chama “Ziehl-Neelsen”. Rotineiramente essa coloração não é realizada e o exame perde o seu valor. Alguns laboratórios realizam automaticamente, mas é sempre bom reforçar essa necessidade na solicitação, por parte do seu médico que realizou a coleta.

Três testes laboratoriais foram recentemente incorporados ao SUS. Um deles pesquisa os anticorpos contra a doença, em contatos familiares dos pacientes. Quando positivos, aumentam a necessidade de realização de um exame minucioso pelo médico, mas não garante que aquela pessoa efetivamente se encontra doente. 

Outro teste detecta o DNA do bacilo que causa a doença, através da realização de uma biópsia, também de pele. Mais uma vez, o entendimento do Ministério da Saúde do Brasil é que mesmo positivo, o paciente precisa ser examinado, para confirmar o diagnóstico.

Foto: Divulgação
Foto: Dra. Laila de Laguiche com um exemplar do teste Baseado na metodologia de PCR, o Kit NAT Hanseníase desenvolvido pela Fiocruz, distribuído pela Tecpar.

 

Por fim o último teste detecta o DNA do bacilo e ainda demonstra se ele é resistente ou não à algumas drogas que são utilizadas no tratamento. Esse teste somente é realizado nos Centros de Referência especializados em hanseníase, mas ainda não se encontra plenamente disponível em todo o território nacional.

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Foto: Divulgação
Mesmo assim, alguns lugares do Brasil realizam esse mesmo exame, com uma metodologia diferente. Todos os estados do Brasil podem realizar a coleta das amostras e enviá-las gratuitamente a esses locais. Converse com o seu médico!

Outros exames que também auxiliam no diagnóstico

Eletroneuromiografia: pode constatar o comprometimento dos nervos do corpo, mesmo sem lesões na pele. Às vezes a autorização para realizá-lo demora muito tempo, dependendo da localidade onde a pessoa se encontra.

Ultrassonografia de nervos: Verifica modificações na forma e na “estrutura do nervo”, podendo servir como auxiliar nos casos iniciais da doença. Requer profissionais familiarizados com a técnica, que não se encontram facilmente distribuídos no território brasileiro.

Sorologia anti-PGL-1: Mede a quantidade de anticorpos contra a hanseníase. Somente realizado em centros de pesquisa. O exame amplamente disponível que falamos anteriormente detecta somente a presença desses anticorpos, mas não mede a quantidade deles. Auxilia, mas não define o diagnóstico sozinho. Não é realizado na rede privada.

Concluindo, ainda não temos testes 100% confiáveis, e nenhum deles, reiterando, irá substituir o exame realizado pelo médico. Portanto, o diagnóstico estabelecido por um médico especialista e experiente não deve ser contestado, fundamentado no resultado negativo de nenhum desses exames citados, que, como a própria denominação reporta em qualquer doença, serão sempre exames “complementares”.

Só depende de você, prevenir as sequelas da doença e evitar danos maiores, desde que receba o diagnóstico de hanseníase. Não perca tempo! Não busque por informações na internet para tomar suas decisões. A hanseníase é uma doença bastante complexa até para quem é especialista no assunto. Os próprios especialistas já definiram há muito tempo que “tempo é nervo”. Ou seja: quanto mais tempo você perder, maiores as chances de você ter complicações e sequelas dessa doença, que é tratável gratuitamente no SUS.

Não tenha medo do diagnóstico! Cuide-se precocemente. Ouça a opinião de um médico especialista, siga essas recomendações, seja disciplinado no seu tratamento e tudo irá ficar bem!

Fontes

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